domingo, 4 de novembro de 2012

Entrevista com KANAVILLIL RAJAGOPALAN: Ponderações sobre linguística, política linguistica e ensino- aprendizagem.

           Kanavillil Rajagopalan é um estudioso da área linguistica. Por seu trabalho profícuo na área da linguagem, conquistou grande respeito nacional e internacional. Rajan, como conhecido no meio acadêmico, atualmente é professor titular da UNICAMP e tem o seu interesse como pesquisador especialmente voltado para questões que abrangem políticas linguísticas. Seu percurso de formação acadêmica foi trilhado na Universidade de Kerala(1966), com o curso de Bacharelado em Literatura Inglesa, e na Universidade de Dehli, onde concluiu dois cursos de mestrado: Literatura Inglesa(1970) e Linguística(1973). Também diplomou-se em Linguística Aplicada pela Universidade de Edinburgo(1975). Pela PUC/SP(1982) obteve o título de Doutor em Linguística Aplicada, e pela Universidade da Califórnia(1993) o Pós-Doutorado em Filosofia da Linguagem. Escreveu e organizou vários livros: Por uma Linguística Crítica: linguagem, identidade, e a questão ética; A Geopolítica do Inglês; a língua que nos faz falhar; Nova Pragmática- Fases e Feições do Saber, entre outros.
            O professor Rajan nos concedeu gentilmente esta entrevista no dia 05 de outubro, quando esteve presente em Sinop para palestrar no IX Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários e II Colóquio Regional de Linguística Aplicada- "Linguagem, Ciência e Ensino: Desafios Regionais e Globais" realizado pelo curso de Letras da UNEMAT e a ALAB.
            Aqui ele discute sobre linguística aplicada, língua e linguagem e ensino-aprendizagem de línguas. Também transitam suas acepções sobre mestiçagem e realidade linguística no mundo globalizado onde o conhecimento das politicas linguísticas é fator crucial para melhor entender, lidar e ensinar as línguas que fazem parte do nosso contexto.

Silva, Santos e Justina: O que é fazer linguística aplicada na contemporâneidade?

Rajan: Linguística aplicada, pra mim, nada mais é do que pensar a linguagem no âmbito da vida cotidiana que nós estamos levando. Não fazendo grandes elucubrações. Daí a diferença entre a linguística dita teórica e a linguística aplicada. É pensar, não como se pensou durante muito tempo: levar a teoria para a vida prática. Mais que isso, é usar a prática como prório palco de criação de reflexões teóricas, ou seja, neste ambito teoria e prática nao sao coisas diferentes. A teoria é relevante para a pratica porque é concebida dentro da prática. Então, eu acho que há um consenso crescente, entre mesmo os ditos teóricos, de que é preciso pensar a forma como se conduzia a teoria. Tradicionalmente teoria se fazia de modo Socrático, olhando para o céu, desvinculado da realidade. Isso não tem o menor sentido. Temos que voltar os nossos pensamentos para o mundo que estamos vendo, vivendo. É através da vivência dentro desse mundo que nós temos que pensar, quer dizer que, não há teoria que seja one side speaks all, ou seja, uma teoria pronta para qualquer situação. Toda realidade, toda circunstância, exige novas complexões teóricas. Isso pra mim é Linguística aplicada.

Silva, Santos e Justina: Partindo dessa idéia de que a linguística aplicada tem como objeto de estudo a linguagem, qual a concepção que o senhor defendede língua e linguagem?

Rajan: A linguagem é aquilo que a gente vive, é nossa vivência, nao se restringe à língua. Linguagem é um conceito muito mais amplo que língua. Língua faz parte, e nem sei se a língua faz parte essencial da linguagem, do ambito da linguagem. A linguagem é o nosso modo de lidar com as nossas circunstâncias, a nossa sociedade, a nossa inserção dentro da sociedade. Portanto, tudo dentro do mundo é mediado pela linguagem, então pra mim linguagem é tudo.

Silva, Santos e Justina: Nós sabemos que o professor tem desenvolvido várias pesquisas, que são muito interessantes para a área de linguística aplicada tanto em cenário brasileiro quanto no exterior. Quais são seus focos de pesquisa? O que o senhor tem investigado recentemente e qual a importância dessas pesquisas para uma reconstrução de uma nova identidade na área de linguística aplicada ?

Rajan: Bom, nos últimos dez anos, como vocês sabem muito bem, eu tenho trabalhado muito, cada vez mais intensamente na área chamada política linguística. Nesse ano mesmo, eu participei de quatro ou cinco congressos internacionais, todos eles voltados para a política linguística. Então, seguramente o que me atrai cada vez mais, é o campo de política linguística. Tanto assim, que hoje em dia eu digo, por exemplo, quanto ao campo de ensino de línguas, que é apenas uma das tantas manifestações de uma política linguística. Historicamente a gente cometeu um grande erro de pensar que o ensino de línguas só dependia do conhecimento da língua. Portanto, a linguística era concebida como uma área teórica que procurava entender o que é desvendar os mistérios da língua resolveria todo o problema. Na melhor das hipóteses a gente pensava: "linguista sozinho não conseguiria dar conta, então vamos chamar o pedagogo". Pedagogia também não dava. Ou seja, eram campos distintos trabalhando e a gente procurava fazer um arranjo. Não é isso! Hoje em dia, internacionalmente há pessoas que cada vez mais pensam que a política linguística implica qualquer pensar sobre o ensino de línguas no país, quer seja da língua materna, quer seja da língua estrangeira, tem que ser colocado, antes de mais nada, no contexto da macropolítica que o país tem. Eu participo de uma comunidade virtual que opera internacionalmente e que tem pessoas de todo tipo de lugar: Estados Unidos, Canadá, México, Oriente Médio, Israel, Egito e Ásia também. A gente troca intensamente trabalhos e procura se encontrar nos congressos internacionais. A exemplo de AILA, a  minha participação foi com esse grupo neste ano, há dois meses atrás. Agora em novembro eu estarei em Nova Zelândia para participar de outro congresso e encontrarei com o pessoal desse grupo. A gente está, cada vez mais, percebendo que não adianta uma série de atividades relacionadas à língua sem pensar em política linguística. Então, resumindo, a área de maior interesse hoje em dia é a de política linguística.

Silva, Santos e Justina: Hoje nós estamos inseridos dentro de uma sociedade globalizada onde o ensino de línguas estrangeiras está em alta. Há algumas políticas que estão sendo feitas, tanto pelo estado quanto pelos municípios para inserção da língua estrangeira para crianças. O senhor é a favor, ou contra o ensino-aprendizagem de linguas estrangeiras para crianças de escolas públicas brasileiras?

Rajan: Essa pergunta não pode ser respondida com sim ou não, não é uma pergunta tão fácil. Eu digo, a questão mais importante não é que idade deve começar. Há opniões de que com crianças muito pequenas, não se pode trabalhar com a cabeçinha delas. Eu digo que a questão não é essa. A gente tem que pensar o ensino-aprendizagem de línguas no contexto maior, ou seja, é uma sociedade. Ensino de língua não é brincadeira. Nesse contexto que nós estamos vivendo, o contexto de globalização, países estão investindo pesadamente nesta questão. Então, a gente tem que perguntar para que a sociedade brasileira precisa que seus cidadãos tenham acesso às línguas? Isso é uma questão de geopolítica. Se o Brasil ptrecisa de línguas, então a gente tem que pensar nesta questão. Uma vez estabelecida a prioridade, a gente tem que perguntar qual a maneira melhor, quais os métodos a serem usados. Voltando à sua pergunta em relação a qual idade, não dá para afirmar se é interessante começar o ensino de língua com quatro anos com uma família do campo, de um lugar qualquer que não tem nenhuma perspectiva de entrar em contato com estrangeiro ou que possa ter qualquer utilidade, talvez nem precise disso.  Então, é tolice tentar com uma criança sendo criada no campo, com finalidade nada mais que isso, ensinar língua estrangeira. Língua materna sim, todos nós precisamos saber. Então, há circunstâncias e circunstâncias, há casos em que as crianças aprendem naturalmente. Eu mesmo sou exemplo vivo, eu fui criado falando três, quatro idiomas e nem se quer sabia que eu estava falando quatro idiomas. Pra mim era uma só língua. Então, eu volto a enfatizar: não há uma solução muito simples. Agora, eu rechaço completamente a idéia defendida por alguns estudiosos de que tem que ter, no mínimo, uma idade qualquer. Não, não tem. Criança é muito mais esperta do que a gente pensa, criança não é um infante sem fala. Deixe a criança sozinha que ela tem condições.

Silva, Santos e Justina: Professor, a penúltima pergunta se refere à formação de professores. Hoje, no contexto brasileiro, nós temos os Cursos de Letras e as políticas de formação não inserem a educação linguística para crianças. O professor acha que seria interessante uma reformulação nas políticas de formação de professores para trabalhar com esta questão?

Rajan: Conforme eu disse, isso só vai acontecer, se a gente pereceber e agir de acordo com essa percepção nítida entre política linguística e o ensino de línguas. Acho que precisamos atrelar as duas coisas cada vez mais. A gente tem que pensar o ensino de línguas desde a abordagem, a metodologia a ser adotada em função da política linguística adotada no país. Portanto, é o que eu digo, um professor na sala de aula tem a necessidade de atuar politicamente sim. É seu dever enquanto cidadão atuar politicamente e inclusive pensar a respeito de como a língua deve ser, qual o lugar que a língua estrangeira deve ocupar na política geral. Isso é um direito, um dever de cada cidadão inclusive do professor na sala de aula. Não dá para escapar disso.

Silva, Santos e Justina: Então, agora a última pergunta partindo da idéia que o senhor já desenvolveu várias pesquisas dentro da área da linguística aplicada, talvez podendo trazer para nós algumas prospecções de futuras pesquisas na área, o que considera de suma importância, podendo indicar para os leitoras da Revista Norte@mentos? Que pesquisas ou que eixos teóricos ou epistemológicos deveriam ser desenvolvidos nas pesquisas?

Rajan: O grande desafio que nós temos hoje é repensar o próprio conceito de língua. Estou convencido de que muitos de nós, sem saber, estamos repetindo, quando discutimos língua, conceitos de categorias herdadas do século passado. Nem somente do século XX, mas o século XIX ainda marca sua presença. Por exemplo, conforme eu venho falando sobre a resistência quanto as línguas híbridas. Eu até chamo de mestiçagem linguística. Por exemplo, muita gente estranha a expressão portunhol. Portunhol, que é isto? Ou se fala português ou espanhol? Portunhol não é um bicho que você está imaginando. O mundo inteiro está presenciando fenômenos parecidos com o Splangish, nos Estados Unidos, que mistura espanhol e inglês. Há o Franglês no Canadá, por exemplo. Hindinglish na Índia, misturando o inglês com o hindi. Isso é natural, assim como é natural na própria raça humana a mestiçagem. Sempre existiu e sempre existirá. O Brasil é a prova mais importante dessa experiência com a raça humana. É uma mistura, um caldeirão que a gente criou. Isto inevitavelmente vai acontecer com a língua também. Agora, se as pessoas ainda resistem a essas línguas mistas, é porque nós temos idéias pré-concebidas herdadas do século XIX. O grande desafio para a linguística aplicada, portanto, eu acho, que é começar da estaca zero, talvez mudar, eu quero dizer, pensar, se desvencilhar das nossas idéias herdadas do século passado. Devemos tentar pensar a linguagem de outros modos, outras maneiras mais adequadas para o nosso tempo.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SILVA, K. A.; SANTOS, L. I. S.; JUSTINA, O. Entrevista com Kanavillil Rajagopalan: ponderações sobre linguística aplicada, política linguística e ensino-aprendizagem. Revista de Letras Norte@mentos- Revista de Estudos Linguisticos e Literários. Edição 08. Estudos Linguísticos 2011/02.



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A fundamental importância da linguística no curso de letras

       O curso de letras dentro dos parâmetros legais, procura atingir o objetivo meramente fundamental que é de multiplicar a capacidade humana de comunicação, no tocante a interagir com os demais membros da sociedade.
   As disciplinas interagem entre si, e elas sempre buscam resíduos das demais.
Se tentarmos justificar o por que da presença constante da linguística dentro do curso de letras, podemos citar a grande contribuição que esta área de conhecimento trás aos profissionais , que de alguma maneira estão diretamente ligadas a educação.  A linguística nos possibilita um olhar critico e transformador, nos ensina a analisar a língua, a fala e a escrita, a partir de uma fonte onde nem sempre o correto é julgado como necessário.
É imprescendivel que o profissional de letras tenha sempre em mente a importância da linguística, dentro dos estudos da língua portuguesa, uma vez que alem de contribuir para a formação do caráter profissional, esta possibilita a interação de diversas dimensões, elemento importante para o exercício da profissão e para uma relação interdisciplinar produtiva com outras áreas.
   Portanto,  é de fundamental importância promover a compreensão da linguagem nas atividades humanas a partir de uma perspectiva que ultrapassa a noção de língua como gramatica normativa e que permita situar esta como um fenômeno da cultura do social, marcada por valores de uso e também como variável.
                                                   

Preconceito Linguistico

    Etimologicamente, preconceito significa uma ideia preconcebida, uma espécie de pré-julgamento. Linguisticamente falando, este vem como uma idéia consequente dos preconceitos sociais, portanto, é notável afirmar que existe uma grande relação entre ambos. Dentro da sociedade notamos o comum preconceito voltado especialmente para as classes menos favorecidas. Este tipo de comportamento se torna notável especialmente quando se trata das classes menos favorecidas, inserindo-se nesta área os analfabetos, pobres e aqueles que não tem acesso a escolarização.
     Dentro do contexto social, os tipos acima descritos, são julgados por não falar corretamente, ou seja, por não seguir os padrões corretos da língua. Nesta linha de pensamento, podemos destacar que todo este conjunto de ações prejudica tanto a nossa educação como a nossa formação enquanto cidadãos, para além de um termo teórico. Cientificamente, o preconceito existente dentro da nossa língua-mãe soa como algo constrangedor, que apenas é defendido através de argumentos. Nesse sentido, observamos que a norma culta muito tem a ver com as causas políticas e históricas, e não somente com a linguística.
     Qualquer maneira de falar tem sua razão de ser, tem suas regras, e obedece a um tipo de gramática, normativa os descritiva. Um estudo a fundo nos possibilita perceber que todos as variantes são corretas, e que mesmo   não percebendo, temos sim um conhecimento e que há regularidades no que se convencionou chamar de erro gramatical.


Entrevista a respeito do Preconceito Linguistico

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ENTREVISTA COM O PROFESSOR TITULAR E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CARLOS ALBERTO FARACO

Foi depois da conferência “Português do Brasil: a construção da norma culta e as práticas de ensino”, na abertura do seminário da Olimpíada, em Brasília, que a revista Na Ponta do Lápis entrevistou o linguista, professor titular e ex-reitor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Alberto Faraco. Para ele “tem que se libertar dessa demonização e perceber por dentro a beleza da diversidade linguística”.

Qual é a visão geral da população sobre a nossa situação linguística?


            O Brasil é monolíngue. É porque se fala uma única língua que se compreende em todos os rincões do território nacional, em todas as situações, mesmo tendo 180 línguas indígenas e, pelo menos, umas 40 ou mais línguas de imigração. Mas quem é que considera isso como característica do país? No século XVIII, num primeiro momento, foi o silenciamento das línguas indígenas para colocar no lugar o português ou o espanhol. Num segundo momento você vai ter no Brasil o silenciamento das variedades populares da língua. Começamos a trabalhar numa ideia de que o país não é só monolíngue, mas que tem uma variedade da língua que merece cultivo e prestígio, enquanto é preciso silenciar a outra, o “pretoguês”, a língua da maioria. Na década de 1930, vai acontecer o terceiro momento, agravado com a Segunda Guerra: o silenciamento das línguas de imigração. O Estado brasileiro vai proibir o uso e o ensino em italiano, em japonês, em alemão. São diferentes momentos em que o Estado e a elite política impõem o monolinguismo. Claro, se isso é um valor da sociedade, vai transitar também na escola. Ao ver os programas de ensino, as reformas da época, a programação era muito clara: ensinar um determinado português. São mais de trezentos anos em que se estabelece e se impõe uma visão monolinguista de silenciamento de toda a diversidade, seja ela dos indígenas, dos imigrantes ou do português popular. Cria-se a imagem de uma pureza em direção ao que se deve caminhar. Só que o país tem uma história, uma dinâmica social que atropela tudo isso. Quando a escola era voltada para uma minoria, até funcionava porque essa própria minoria já vinha com esse português prestigiado para a escola – era só polir um pouco. Agora, quando a população brasileira invade a escola, justamente a massa que ficou fora do teto cultural e educacional, você tem outras variedades da língua, outra experiência cultural. Isso é muito recente na história do Brasil.

É possível expressar coisas complexas independentemente de se usar ou não a norma culta?

             Sim. É preciso lembrar o que Gramsci dizia: todo ser humano é um filósofo. Independendo da sua condição, todo ser humano é um filósofo. É claro que você tem que pensar nas especializações da cultura. Você não pode desconsiderar o que a humanidade produziu a partir da cultura escrita enquanto literatura, enquanto fi losofi a, ciência, matemática. É claro que há uma especialização. A história produziu uma fi - losofi a que é fundamentalmente escrita, que tem um tipo de vocabulário, um tipo de argumento, um tipo de expressão que não é a mesma de um analfabeto. O analfabeto também é um filósofo, ele produz um discurso. Essas pessoas não tiveram acesso à língua escrita, mas produzem sentidos, interpretam, contam histórias, narram, compõem músicas; portanto, a oratura é uma experiência muito anterior à literatura, no sentido da escrita. A sociedade complexa precisa de gente cada vez mais qualificada em termos de cultura escrita, em formação científica. Mas isso não significa que você tenha que desvalorizar o outro lado, a experiência de quem passa por outra história.

Uma provocação: gramática é fundamental para escrever ou para aprender a escrever?

            Eu não sei se é. Tem uma frase do Autran Dourado que diz assim com relação à gramática: “É preciso aprender a gramática, para depois esquecê-la”. Vamos colocar isso de outro jeito: para você refinar a sua expressão escrita é importante desenvolver consciência sobre como a língua é e como ela funciona estruturalmente. Vamos pensar sobre a organização sintática como parte do processo. Então, quando eu estou lendo um texto, de repente parar num determinado momento, destacar e analisar um segmento e perceber que o autor usou orações coordenadas, que ele poderia ter usado subordinadas. É importante ter essa consciência, assim como ter consciência do funcionamento social da língua, de que você varia a língua conforme o contexto em que você está, conforme o gênero. Quer dizer, escrever um conto é diferente de escrever um poema; fazer um sermão é diferente de narrar um jogo de futebol. Há um processo todo que nós fazemos na adequação da linguagem. As duas coisas são importantes: língua na dinâmica interacional, social, e a estrutura da língua. A possibilidade de você rastrear no vocabulário palavras mais precisas para aquilo que você quer dizer, essa reflexão é fundamental. Agora, qual é o problema da gramática? A gramática é ensinada escolasticamente: você dá o conceito, o exemplo, e faz exercício. Isso não faz sentido para quem está se aproximando da língua e precisa compreender como ela funciona.


Em sala de aula, como o professor pode lidar com as questões do preconceito linguístico?

           A primeira coisa é o professor ter uma atitude positiva, olhar e sentir a variedade linguística como algo positivo. Olhar a beleza da diversidade, uma das grandes características do ser humano. Para isso ele precisa ter uma compreensão da história do português. O sujeito que diz: “Nóis pega peixe”; ele não diz isso porque é preguiçoso ou ignorante. Ele diz isso porque pertence a um grupo social cuja história produziu esse tipo de variedade de português. Olhar a história dessas variedades é o que dá outro patamar para lidar com elas. Num país que lutou, por trezentos anos, pela ideologia do monolinguismo, a variedade linguística é demonizada nesse quadro imaginário. Primeiro, tem que se libertar dessa demonização e perceber por dentro a beleza da diversidade linguística, a cara do país linguisticamente tão diversa. Segundo, vai ter que raciocinar com os alunos, mostrando o absurdo do preconceito. Mas isso não pode começar nem muito cedo, nem muito tarde. Existe um estudo fundamental sobre isso que diz: as crianças de 3 a 4 anos percebem a variação linguística, imitam, inclusive, variedades diferentes, mas elas não têm ainda percepção da valoração social que recobre as variedades. Na pré-adolescência, o jovem percebe que quando se fala diferente tem reações diferentes – positivas ou negativas. Portanto, eu diria que no fi m do Ensino Fundamental e no começo do Ensino Médio é preciso fazer essa discussão, compreender que a diversidade não é sinônimo de ignorância. Infelizmente, nós temos pouco material disponível porque essas variedades num país monolíngue são inaudíveis, embora elas estejam ressoando no nosso ouvido permanentemente. E não há registros técnicos sufi - cientes dessas variedades para que se possa preparar material didático que alimente e ofereça ao aluno a diversidade, não folclorizada, porque folclorizar é fácil. Nos anos 1980, saiu um livro, Os peões do Grande ABC [Luís Flávio Rinho. Petrópolis: Vozes, 1980], um levantamento sociológico com os peões que eram migrantes. Praticamente todos analfabetos; portanto, falavam variedades do português popular. Os textos foram transcritos preservando a fala das entrevistas. Nas minhas aulas eu usei os textos desse livro. Tem coisas belíssimas. O peão falando, por exemplo, da hora que se aproxima dele bater o ponto. A alegria que toma conta da pessoa que termina o dia de trabalho, vai se aproximando a hora de ir para a fila, uma empurração geral! Ele diz assim: “É o desejo de liberdade”. Veja a interpretação dele. Mas isso dito num português popular. Isso é material de memória, material de reflexão, literatura oral. Nós precisaríamos coletar tudo, constituir um registro desse patrimônio para daí transformar em material didático, porque essa coisa de só trazer as tirinhas do Chico Bento não dá certo. Isso é um estereótipo e não tem a ver realmente com o problema sociolinguístico brasileiro. O professor tem que ter essa abertura, atitude de respeito com relação ao aluno, para ele ser capaz de mostrar ao aluno as adequações num contexo.

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Linguagem dos Jovens

    Dentro dos estudos da língua, podemos observar a existência de inúmeros meios de expressão, por ter uma caráter heterogêneo, esta nos possibilita um conjunto de possibilidades. Contudo, esta sempre propicia mudanças e estas vem de acordo com a cultura, o tempo e principalmente a idade.
        Os jovens costumam criar tribos nas quais a linguagem nem sempre se assemelha ao conjunto da obra, fazem uso de gírias e estão sempre a procura de inovações quando a ideia é comunicar-se, fazem preferência pelo novo e pelo diferente, e o radicalismo torna-se muito comum em suas falas.
        Mas qual seria a relação existente entre linguística e a linguagem dos jovens?
          Sabemos que a linguística estuda a linguagem humana e seus respectivos valores, voltando ao âmbito inicial de discussão do nosso tema, podemos salientar que a mesma não abre mão de entender e explorar este novo léxico que inova a cada dia e que segue de geração a geração com adaptação a mudanças.
Há neste conceito uma modificação que satisfaz a linguagem dos falantes. As línguas são mutáveis, portanto, estão propícias a inovações ao longo do tempo. Estamos falando de uma evolução que difunde a linguagem e que luta por adequação a quem faz uso da mesma.
          Portanto é imprescendivel que exista compreensão por parte dos usuários da língua, com o intuito de conscientizar que a variedade linguística sempre vai existir, fazendo uso de diferentes tipos de linguagem.

Referências Bibliograficas

BAGNO. Marcos.Preconceito linguístico o que é como se faz,44.ed.São Paulo: Edições Loyola 2006.

JORNAL MUNDO JOVEM. Tecnologia .ed.n.392/nov 2008.pag.15.

TARALLO,Fernando.A pesquisa sócio-linguística.7.ed.São Paulo.Atica.2000 serie princípios.
                                                      


                                                     

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Politicas Linguísticas



       Durante décadas as políticas linguísticas viviam em exclusivo poder do estado, e por muito tempo ficaram conhecidas como planificação linguística. Esta surge em meados da década de 1960, e tem como objetivo estudar a relação entre poder e língua, ou seja, procura analisar como as decisões politicas interferem sobre o uso da língua dentro da sociedade, e se esta pode ser ou não usada em determinadas situações oficiais ou não.
       Tornou-se comum de alguns anos para cá a iniciativa de muitos indivíduos no tocante a legislar, ditar o uso correto e até intervir na forma da língua. Contudo tanto o planejamento linguístico como a politica linguística, surgiram de forma geral em conceito de estruturas mais recente.
       É importante ressaltar que as politicas linguísticas são dotadas de diversos meios e fins, um fator que muito chama  a atenção para a complexidade do tema, sujeito e atuação de  diferentes fatores.
A língua é portanto uma instituição fundamental da sociedade, logo, planejar a língua significa também planejar a sociedade.


Referência Bibliográfica

CALVET.Louis.Jean.(2007).As Politicas  Linguísticas , São Paulo: Parábola.